A morte e a morte de quincas berro d'água
A narrativa de A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água ambienta-se em Salvador, na época atual, e é apresentada por um interessante narrador em primeira pessoa, pois que é dotado de onisciência. Tudo gira ao redor de Joaquim Soares da Cunha, mais conhecido como Quincas Berro d’Água, apelido gerado pela reação explosiva e indignada ao ter bebido, por engano, água no lugar de cachaça, sua bebida predileta. Por aí já se pode imaginar de que tipo de personagem se trata. Essa idéia pode ser reforçada pelos apelidos que havia recebido: Rei dos Vagabundos da Bahia, O Cachaceiro-Mor de Salvador, O Vagabundo por Excelência, O Filósofo Esfarrapado da Rampa do Mercado, O Rei da Gafieira, O Patriarca da Zona do Baixo Meretrício.
No entanto, nem sempre teve tais predicados. Dez anos antes do início da narrativa, Quincas era funcionário exemplar da Mesa de Rendas Estadual. Levava uma vida respeitável, mas que lhe era sufocante, graças às pressões de uma formalidade vazia e inútil. O rompimento ocorre quando sua filha, Vanda, está para se casar com Leonardo Barreto, uma reprodução fiel do estilo de vida de Joaquim; a diferença é que o jovem está satisfeito com o que tem. Comunicado o noivado e apresentado o rapaz, Joaquim qualifica-o como um coitado. Vanda e Otacília (sua esposa) têm uma reação que é um misto de indignação e incompreensão. Inconformado, Joaquim chama o futuro genro de bestalhão e sua esposa (tão apegada às etiquetas) de jararaca. Sai de casa e transforma-se no Quincas Berro d’Água. Decai socialmente, pelo menos aos olhos de uma sociedade apegada à formalidade, mas encontra sua felicidade em meio a gente da classe baixa, como marinheiros, prostitutas, capoeiristas.
Vindo da classe alta e identificando-se com o baixo estrato, acaba-se tornando o “pai da gente”, no dizer constante de uma das personagens. Por um lado isso revela um paternalismo a idealizar as diferenças sociais gritantes na sociedade baiana. Por outro,