A metalinguagem como recurso literário em dom casmurro
Paula Melo
Síndea Botêlho
(Universidade Católica de Pernambuco)
Não há abismos entre o leitor e Machado de Assis. O mestre brasileiro, o bruxo do Cosme Velho, contradiz os conselhos de Mario Vargas Llosa aos aspirantes a escritores que diz ser fracasso ou abismo do estilo aquele momento em que o leitor se mantém lúcido lendo uma história, ou seja, consciente de estar lendo uma história. Pois se, em todo Machado, o leitor é personagem, convocado mesmo a participar da trama e às vezes até guiando a mão do autor para que este lhe crie um enredo sob medida, o abismo aqui não é abismo, mas o ápice de um estilo que marcaria a carreira do mestre brasileiro. Em Os leitores de Machado de Assis, Hélio de Seixas Guimarães lê, em Machado, seus leitores, ou seja, percebe, numa terceira margem do rio, os leitores possíveis, imaginados, criados e incluídos na literatura machadiana. Suas observações vão além dos termos dos estudos de recepção, pois não se detêm ao caráter interpretativo-subjetivo do leitor, mas teoriza sobre a própria criação, formatação do leitor como personagem de ficção, figura que surge na quase maioria dos romances e contos. Na análise acurada de Guimarães, em que cada obra machadiana é dissecada no aspecto da concepção do escritor oitocentista, a cerca de quem seria o leitor e quem o autor gostaria que este fosse. Superando o desejo de formação de público numa mimetização do leitor em personagem, Machado de Assis é um escritor de vários leitores. Aqui, não em uma concepção de número de leitores, mas em um sentido da consciência da existência de vários tipos de leitores. Em Machado, o leitor assume, pois, um duplo papel: o de leitor-ledor, isto é, aquele que decodifica e interpreta o texto, e o leitor-presonagem, a quem o autor se dirige e nomeia. Guimarães coloca em observação a presença (ou figuração, como chama) do leitor machadiano em