Dom casmurro
Estilo de época da obra
O Realismo é um estilo de época da segunda metade do séc. XIX, marcado por uma forte oposição às idealizações românticas. Assim, as personagens realistas apresentam mais defeitos do que qualidades, destacando-se as temáticas do adultério, dos interesses econômicos, da ambição desmedida, da dissimulação e da vaidade.
Machado de Assis, entretanto, ultrapassou a própria estética realista, na qual está inserido, ao utilizar recursos narrativos que não são típicos dos demais autores de sua época, antecipando mesmo certos aspectos de modernidade, o que aliás contraria o que disse dele Mário de Andrade em Aspectos da Literatura Brasileira. O emprego do micro-capítulo e de técnicas cinematográficas são bons exemplos dessa modernidade.
Machado foi o mais fino analista da alma humana, mergulhando densamente na psicologia de suas personagens para decifrar-lhes os enigmas da alma, seus sofrimentos, pensamentos e retirando desse mundo íntimo um retrato humano e social até hoje insuperável.
Seu estilo não é linear, como nos demais realistas, mas digressivo, paródico e metalingüístico. Em Dom Casmurro, por exemplo, o narrador não se contenta em contar a sua história, mas parece conduzir o leitor por caminhos tortuosos através de sua memória e seus pensamentos antes de decifrar seu passado. Não satisfeito, parece adiar ainda mais os fatos na tentativa de explicar a própria obra (metalinguagem), justificando-se com ele (leitor incluso) ou ironizando-o.
Essa obra consolida a entrada de Machado de Assis na galeria dos grandes nomes da literatura mundial. É considerado um romance sobre o adultério, embora não haja certeza na história a esse respeito, tampouco o tema do romance se limita a isso. É antes um estudo penetrante da vaidade masculina, do vazio das instituições, assim como o mistério feminino. Todo o conjunto de certezas da realidade (e do realismo) torna-se frágil, ilusório e enganador. Todos os