A Mancha
A mancha
LUIS FERNANDO VERÍSSIMO
Copyright © 2004 by Luis Fernando Veríssimo projeto gráfico E capa Raul Loureiro foto de capa "Scorpion" da série Vulgo, (1998/1999), de
Rosângela Rennó. Fotografia digitai a partir de original pertencente ao Museu Penitenciário Paulista. Reproduzido de Rosângela Rennó: O arquivo universal e outros arquivos^
São Paulo, Cosac & Naify, 2003 revisão Isabel Jorge Cury e Carmen S. da Costa
Os personagens e as situações desta obra são reais apenas no universo da ficção; não se referem a pessoas e fatos concretos e sobre eles não emitem opinião.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Veríssimo, Luis Fernando
A mancha / Luis Fernando Veríssimo. — São Paulo : Companhia das Letras, 2004. jsbn 85-359-0475-1 (obra completa) isbn 85-359-0472-7
1. Conto brasileiro 1. Título.
04-0985 CDD-869.93 índice para catálogo sistemático:
1. Conto : Literatura brasileira 869.93
[2004]
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Preso durante o regime militar, Rogério parte para o exílio. Ao voltar, enriquece no ramo imobiliário. Visitando um prédio que pretende comprar, vê uma mancha que lhe impõe uma tarefa paradoxal: lembrar e ao mesmo tempo livrar-se da memória dos anos da ditadura.
Enriquecer. Rogério achava engraçada aquela palavra. Quando lhe perguntavam o que ele fizera depois de voltar do exílio e ele respondia "enriqueci" era como se fosse alguma coisa orgânica. Como se dissesse "engordei" ou "perdi os cabelos". As pessoas riam e não pediam detalhes, não perguntavam "Enriqueceu como?". Se ele dissesse "fiquei rico" teria que explicar. Contar que comprava e vendia imóveis, pegava casas e prédios abandonados, reformava e vendia, ou demolia e negociava o terreno. Mas dizer