A loucura do trabalho estudo de psicopatologia do trabalho
Christophe Dejours
As estratégias defensivas
1. As "ideologias defensivas" (o caso do subproletariado)
O subproletariado de que vamos falar é aquele que habita as zonas Peri urbanas. Não se trata aqui de uma classe social no sentido que os homens políticos italianos, por exemplo, entendem. Mas da fração da população que ocupa as favelas ou os cortiços, geral- mente jogados na periferia das grandes cidades. Esta população não se caracteriza pela participação comum em uma mesma tarefa industrial. Ao contrário, o que a une é mais o não-trabalho e o subemprego. Por isso, poderia parecer insólito tomá-la como exemplo num estudo de psicopatologia do trabalho. Entretanto, se procedemos desta maneira é porque, nesse universo do subúrbio, as contradições aparecem ainda mais gritantes do que em qualquer outro lugar. O sofrimento aí aparece maciço e evidente. Mas sua natureza pede para ser decifrada. A miséria "descrita pelos acadêmicos do século XIX", a miséria operária concebida como uma doença epidêmica (13), traduz antes de tudo o pensamento social dominante na época, mas não dá conta da vivência partilhada pelos homens do subproletariado. Mais do que em outros lugares, pode-se ver então um certo tipo de defesa, que nós descrevemos sob o nome de "ideologia defensiva". O que vai prender nossa atenção é a vivência dessa população em relação à saúde, mais precisamente em relação à doença. Não se trata de desdecrever as condições reais de saúde. Elas só serão lembradas como informação, quando fizermos referência aos importantes trabalhos publicados pelo Dr. de La Gorce (47) e pelo Dr. Galland (44). Estes trabalhos mostram que o subproletariado é vítima de uma taxa de morbidez muito superior à da população em geral. A título de exemplo significativo, podemos citar a incidência importante de doenças infecciosas, particularmente nas crianças, e da tuberculose, que continua a ser ainda um flagelo na população adulta.