A Logica da esmola
LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS - PROFESSORA ROSANA BERG
A lógica da esmola
05
10
15
20
25
30
35
39
Você conhece gente que se faz de morta quando um pobre se aproxima para pedir uma esmola? O que será que essas pessoas sentem?
O objetivo de todo pedinte é conseguir contribuições voluntárias de pessoas que nem sempre estão dispostas a contribuir. Gary Becker, Prêmio Nobel de Economia, por quem nutro um grande apreço, acaba de publicar uma intrigante análise sobre a mendicância (Spouses and Beggars: Love and Sympathy, 1996).
Segundo sua teoria, a estratégia do pedinte se baseia na utilização adequada da aparência e da linguagem. Usando vestes, postura, gestos, palavras e situações, ele procura fazer brotar no potencial doador um sentimento de culpa e piedade que, por sua vez, desemboca na simpatia que o leva a repartir um pouco dos seus bens.
Para Becker, o desconforto do doador e os apelos do pedinte é que instigam a pessoa a conceder a ajuda solicitada. O doador dá esmolas, portanto, para se livrar do um mal-estar. Trata-se de uma conduta calculista e de cunho eminentemente utilitário.
O que você acha dessa teoria? Do meu lado, penso que ela se aplica a uma boa parcela dos americanos. Talvez se ajuste também ao caso das pessoas da elite e classe média alta no Brasil. Conheço casos extremos de gente que até desfruta encontrar um pobre, porque isso lhes permite dar esmolas e aliviar culpas.
Mas, essa não é a situação mais comum. Nos dias de hoje, é ilusório para os pedintes esperar que uma legião de "culpados" corra atrás deles para oferecer a sua ajuda. Os pobres que param ao lado dos carros luxuosos nas esquinas das grandes cidades sabem como é difícil emitir o tipo de sinal que comova o motorista e redunde em esmola. Para eles, de fato, o desafio é criar um tipo de manifestação que leve a "vítima" a ajudá-los para se livrar de um desconforto. Nesse campo, Becker está