A literatura na sala de aula: alguns problemas; muitas possibilidades
Maria Zélia Versiani Machado
Esta apresentação se divide em duas partes:
A primeira parte está relacionada a “problemas” de natureza conceitual, que se ligam basicamente a uma questão: por que ensinar literatura? A segunda parte se inscreve no terreno das possibilidades de trabalho com a literatura na escola e pode ser resumida na pergunta: o que a literatura ensina?
I Antes do “como”, “por quê”
Os principais problemas ligados à formação literária no Ensino Fundamental tradicionalmente se encontram atrelados às condições de acesso ao livro e às concepções e representações escolares da literatura. Das últimas décadas do século passado até os dias atuais, a situação de acesso a livros pela via da escola tem mudado, por meio de programas e projetos, que têm minimizado os problemas que decorrem da carência material. Apesar disso, ainda persistem outros. O que muitas vezes se percebe nas mediações escolares da literatura é a pouca clareza quanto à sua função e ao seu valor social, dificultando a compreensão da primeira questão que nos interessa aqui: afinal, por que se ensina literatura?
Por que ensinar literatura?
O ensino da literatura encontra sua principal razão de ser na experiência renovadora que a linguagem da ficção e da poesia oferece aos leitores. A interação com o texto literário se diferencia de outros usos sociais da língua, embora nesses outros usos cotidianos o “fingir” e a “experimentação poética” possam também estar presentes, já que os discursos não se fecham uns em relação aos outros. Podemos afirmar, assim, que a poesia e a ficção não se separam dos outros discursos, embora provoquem um estado de “suspensão do real” enquanto lemos, que dificilmente alcançamos na leitura de outros textos. A invenção não é exclusiva da literatura, mas a literatura pressupõe uma invenção que organiza o mundo e estabelece novos modos de compreender a vida e a condição humana, criando,