A Lenda Tebana
O lugar chamado Tebas fica na planície central da Beócia, parte da estreita faixa de terra que liga o campo ateniense ao continente mais ao norte. Aqui, sob a orientação do oráculo de Delfos, uma cidade foi em princípio fundada por Cadmo, filho de Agenor e irmão de Europa, aquela que Zeus cortejou na forma de um touro. A desgraça caiu sobre ele mesmo antes de a cidade estar estabelecida, pois todos os companheiros confiáveis que deveriam ter sido os primeiros cidadãos foram devorados por um dragão feroz que habitava um vale vizinho. Mas Cadmo era páreo para um dragão, e com um golpe o matou. Novamente a palavra do Céu o guiou, e ele foi instruído a semear os dentes do dragão no solo preparado para a futura cidade; das sementes brotou instantaneamente uma tribo de gigantes tão feroz e bem armada que um combate mortal se iniciou imediatamente entre eles. Restaram apenas cinco vivos, que ofereceram sua submissão a Cadmo e se tornaram fundadores e patriarcas da futura Tebas. Cadmo gerou Polidoro, e Polidoro gerou Labdacos, e Labdacos gerou Laio; e de Laio e sua esposa Jocasta nasceu um filho. Ainda antes de receber um nome – segundo alguns relatos, mesmo antes de nascer – sua vida foi anuviada pelo desastre; pois o oráculo de Apolo só tinha maus presságios para ele: estava destinado um dia a matar seu pai e se tornar marido da própria mãe. Poderia algum recurso mortal alterar isso? Laio e Jocasta presumiram que sim. Apenas um jeito oferecia alguma esperança – mais que esperança, certeza. A criança não deveria viver. Para não assumir a culpa de infanticídio, o casal entregou-a a um servo, um pastor, com ordens de abandoná-la na encosta da montanha, os pés cruelmente furados por um prego de ferro, de modo que ela não pudesse nem rastejar para se salvar. E assim foi feito. Mas ainda a palavra de Apolo – e a compaixão humana – prevaleceram. Pois o pastor não teve coragem de deixar a criança morrer; em vez disso confiou a um colega, um pastor