Ética
Ética e política em Michel Foucault
Cesar Candiotto
Resumo
Pretende-se analisar como, no pensamento de Michel Foucault, a investigação em torno da ética do cuidado de si pode ser lida como desdobramento da ideia de governamentalidade, problematizada a partir de 1978; procura-se indicar, ainda, que essa ética do cuidado de si é a condição do governo político dos outros, na leitura da tradição socrática, o que possibilita uma revisitação da política. Mas, desde a avaliação que Foucault faz da figura de Sócrates em relação à política ateniense até seu diagnóstico da política contemporânea, essa revisitação tem sido conflitante, pelo menos quando se trata da constatação da maneira como as instituições políticas cuidam dos cidadãos. Esse conflito beira ao paradoxo, posto que, ao mesmo tempo em que a biopolítica afirma uma política da vida, no sentido de proporcionar seu cuidado, preservação, longevidade, observa-se também a atuação de uma política sobre a vida, enquanto vida controlada e submetida ao biopoder. Essa discrepância entre dispositivos discursivos e práticas efetivas demonstra uma ausência do cuidado da verdade, entendido aqui como coerência entre o que se diz e o que se faz. Enquanto desdobramento do cuidado de si, o cuidado da verdade pode ser interpretado como uma chave de leitura fundamental para o diagnóstico dos riscos e perigos que ameaçam recorrentemente a vida humana.
Para pensar a ética, Foucault recorre aos gregos do século V e IV a.C.. Era muito importante para o grego sua prática política e econômica, e para bem desempenhar suas funções era essencial cuidar de si próprio. Somente um homem livre, construtor de sua própria vida, determinante de suas próprias razões e ações poderia desempenhar suas funções na polis (cidade-Estado) de forma adequada. Para o grego tomar as rédeas da própria vida era como construir uma obra de arte, esculpir uma vida bela. Ética nesse sentido era um modo de