Ambivalências: Mamelucos e Indianizados. Os mamelucos desempenharam um papel essencial na transferência da seita para Jaguaripe, senão porque esses culturalmente híbridos, ou seja, meio brancos e meio índios, demonstram um tipo de ambivalência por vezes mais disjuntiva que a da santidade ameríndia. A própria origem da expressão mameluco é razão de controvérsias, porque alguns ligam a palavra ao vocábulo tupi maloca, termo utilizado as vezes para designar a expedição apresadora que celebrizaria os próprios mamelucos. Outros lembram que o termo era de uso corrente em Portugal na era medieval, usado para designar os mestiços pela ferocidade na caça aos escravos. Mameluco é a palavra de origem árabe, mamluk que significa escravo, pajem, criado mas para o autor, Antônio de Moraes Silva é quem fornece a melhor descrição. Antônio diz que mamelucos eram turcos criados nas artes da guerra. Essa palavra se vulgarizou em Portugal na Idade Média, provindo do termo árabe sobre a facção de escravos turcos que acabaria fundando uma dinastia afamada por sua tirania sobre o exército mulçumano no Egito. Mas nossos mamelucos colônias herdaram, até mesmo no nome, a fama de violência dos guerreiros turcos-egípcios. O papel dos mamelucos foi realmente essencial na história da colonização portuguesa no Brasil. Foram os mamelucos que ampliaram as fronteiras lusas para além da linha de Tordesilhas, engrossando as bandeiras a cata de ouro, pedras preciosas e escravos índios, o que sempre despertou a ira dos jesuítas. Foram eles que marcharam nas conquistas portuguesas do gentio indômito. Com isso, neutralizaram a tendência lusitana ao povoamento litorâneo, a colonização no estilo feitoral. Os mamelucos romperam na prática, o apego dos portugueses a costa. Enfrentavam não só moléstias, mas a fome, a sede, o gentio brabo, os animais peçonhentos e agressivos, e todo nível de ameaças que somente eles, com sua bagagem cultural híbrida, eram capazes de desafiar. Eles herdaram dos nativos