A herança europeia
A Riqueza e a Pobreza das Nações: Por que são algumas tão ricas e outras tão pobres, de David S. Landes
Tradução de Lucínia Azambuja
Gradiva, 2001, 760 pp.
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Esta é uma obra de grande fôlego que procura saber porque "são algumas tão ricas e outras tão pobres". Num registo fulgurante, David S. Landes oferece explicações pessoais e polémicas para uma das principais questões da actualidade.
Escreve David S. Landes que "o mundo está dividido em três espécies de nações: aquelas em que as pessoas gastam rios de dinheiro para não aumentar de peso, aquelas em que as pessoas comem para viver e aquelas em que as pessoas não sabem de onde virá a próxima refeição". Segue-se a pergunta, porquê? Habituados que estamos a densas análises de natureza sociológica e económica, a inextrincáveis antologias de dados e séries de conjunturas e estruturas, a teorias da dependência ou dominação, do imperialismo ou do neocolonialismo, a debates conceptuais sobre a natureza das vantagens comparativas, sobre mais Estado e menos Estado, podemos ter dificuldades em aceitar como válida uma terceira via na análise que rejeite "complexas combinações históricas para se ajustar a esquemas simples e claros". Essa é, porém, a atitude que David S. Landes, professor emérito da Universidade de Harvard, recupera de Alexander Gershenkron e aplica na máxima intensidade na sua obra "A Riqueza e a Pobreza das Nações — Porque são algumas tão ricas e outras tão pobres".
Para muitos, a leitura do trabalho do historiador norte-americano pode parecer por isso um exercício superficial, ideologicamente optimista e eurocêntrico, pouco científico porque faz a apologia do sucesso meritocrático liberal (a discreta alusão à obra clássica de Adam Smith, "A Riqueza das Nações", não é inocente) e da presumível superioridade moral do cristianismo na sua versão mais rígida, o calvinismo protestante, para a criação de economias avançadas. A relação causal, mecânica, entre o sucesso de