a grande transformação - resenha
Armando de Melo Lisboa
"A Crítica de Karl Polanyi à Utopia do Mercado"
Nº 2/2000
SOCIUS - Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações
Instituto Superior de Economia e Gestão
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A CRÍTICA DE KARL POLANYI À UTOPIA DO MERCADO
Karl Polanyi (KP)1 constitui um suporte imprescindível para enfrentar e superar (sem cair no irracionalismo) o crescente e cada vez mais perigoso economicismo, ou, na linguagem habermasiana, esta colonização do mundo da vida pelo econômico. Sua reflexão está surpreendentemente sintonizada com alguns dos mais recentes avanços da reflexão econômica e social, propiciando pistas para o enfrentamento das debilidades crescentes do pensamento econômico dominante (vide Anexo A). Ao nos legar uma estrutura conceitual capaz de pensar o lugar da economia na sociedade, KP se mostra fecundo e adequado, em particular, para nos ajudar a refletir sobre a emergência contemporânea das formas de economia solidária e a construção social de novos mercados.
1. Conceito de embebimento (embeddedness) e a pluralidade das formas econômicas Em A Grande Transformação (1944/1980) Polanyi demonstra que até o final do século XVIII encontramos em todas as sociedades o sistema econômico imerso no sistema social. Assim, anteriormente à nossa época nenhuma economia era controlada por mercados. Embora a instituição mercados estivesse sempre presente na história humana, "seu papel era apenas incidental na vida econômica" (Polanyi, 1980:59).
"Os mercados eram apenas um aspecto acessório de uma estrutura institucional controlada e regulada, mais que nunca, pela autoridade social" (p.80).
Ao formular a categoria de imersão (ou incrustação, embebimento), KP explica a impossibilidade de separar mentalmente a economia de