A globalização é assimetrica
Para Manuel Castells a forma como se estrutura o processo de globalização gera desigualdades. O que tem valor é articulado em rede enquanto os demais ficam excluídos. E há diversas redes multidimensionais que funcionam de forma distintas, porque a desregulação é seletiva, os limites burocráticos são abolidos diferentemente para o capital, as mercadorias e das pessoas.
No âmbito financeiro, a globalização é realmente integrada, pois o dinheiro das pessoas está em algum circuito eletrônico e para render o capital tem de estar circulando nos mercados financeiros globais. “Todos vivem em função desse mercado desregulado, que é o cerne do sistema econômico global” alerta o pesquisador.
A produção, por sua vez, é controlada por núcleos globalizados, mas a maioria está fora da rede global. As empresas multinacionais são poucas e empregam poucos, pontua Castells, “são 75 mil empresas multinacionais que empregam apenas 250 dos 3500 milhões de trabalhadores existentes no mundo”. Mas esse núcleo globalizado controla 60% do comércio global, dessa forma, toda economia depende de como se conecta com esses centros.
Já o comércio deixou de ser entre países, passou a ser entre empresas, 2/3 do volume comerciado internacionalmente é em virtude dos componentes que são produzidos por filiais espalhadas pelo mundo. O mesmo ocorre com as commodities. “A soja é paradigmática, depende de componentes essenciais que são tecnológicos e globalizados, a terra é alugada, os insumos importados e a contratação feita de acordo com a demanda. O comércio é outra rede, mas intrinsecamente conectada à rede financeira e de produção”, ilustra o pensador.
Ciência e tecnologia também estão totalmente globalizadas, há burocracias, mas os sistemas de produção tecnológicos funcionam em redes globais desproporcionalmente e assimetricamente distribuídas. São Paulo, por exemplo, corresponde a 40% da produção cientifica da América Latina. Mas nem os melhores centros