A geoestratégia de mahan e o poder marítimo
CFR
Nuno Sardinha Monteiro
Introdução Mahan e Corbett foram dois dos maiores estrategistas marítimos de toda a história. O almirante norte-americano Alfred Thayer Mahan1 é considerado o patriarca das modernas estratégias marítimas – apesar desse epíteto não ser inteiramente merecido, já que outros autores antes de si haviam abordado, com grande esclarecimento, problemáticas afins. Entre eles 2 é obrigatório referir o Padre Fernando Oliveira, com a sua obra “Arte da Guerra do Mar”, publicada em 1555. No entanto, o clérigo português figura nas notas de rodapé da história, enquanto o almirante americano permanece como o grande profeta do sea power, ou seja do poder do Estado no mar3. Foi Henry L. Stimson, Secretário da Guerra dos EUA (1911-13 e 1940-45), quem assim o apelidou. Stimson atribuiu boa parte dos problemas entre o Exército e a Marinha, que teve que enfrentar no seu segundo mandato, ao facto de o Departamento da Marinha passar frequentemente “do domínio da lógica para um obscuro mundo religioso, no qual Neptuno era Deus, Mahan o seu profeta e a Marinha dos EUA a única verdadeira igreja”4. As teses de Mahan foram, de alguma forma, aprofundadas pelo historiador britânico Julian Stafford Corbett, que extraiu do predecessor as ideiaschave e as refinou, através de pesquisa histórica complementar e de ponderação de aspectos adicionais de outras teorias militares.
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Mahan terminou a carreira naval como capitão-de-mar-e-guerra e só foi promovido a almirante já depois de ter passado à reserva. Apesar disso, continuou a assinar os seus textos como Captain. 2 Restringindo até meados do séc. XVI, podem citar-se o grego Tucídides (com a sua “História da guerra do Peloponeso”, no séc. V a.C.), o Rei Afonso X de Castela (que publicou “De la guerra que se face por la Mar”, em 1270), o árabe Ahmad Bin Majid (que, numa obra sobre navegação, datada de 1489, enfatizou os benefícios financeiros do tráfego marítimo), o também