A filosofia
Mas será verdade que a filosofia não serve para nada? Claro que não. A filosofia, como a ciência, como a arte e como a religião, serve para alargar a nossa compreensão do mundo. Em particular, a filosofia oferece-nos uma compreensão da nossa estrutura conceptual mais básica, oferece-nos uma compreensão daqueles instrumentos que estamos habituados a usar para fazer ciência, para fazer religião e para fazer arte, assim como na nossa vida quotidiana. A filosofia é difícil porque se ocupa de problemas tão básicos que poucos instrumentos restam para nos ajudarem no nosso estudo. Os matemáticos fazem maravilhas com os números; mas são incapazes de determinar a natureza última dos próprios números -- têm de se limitar a usá-los, apesar de não saberem bem o que são. Todos nós sabemos pensar em termos de deveres, no dia a dia; mas a filosofia procura saber qual é a natureza desse pensamento ético que nos acompanha sem nós darmos muitas vezes por isso.
Para compreendermos melhor as dificuldades da filosofia é conveniente pensar numa metáfora. Imagine-se que eu estou a fazer uma casa. Preciso de usar vários instrumentos, como a pá de pedreiro, e vários materiais, como o cimento. Mas quando quero fazer uma pá de pedreiro, ou quando quero fazer o cimento, terei de usar outros instrumentos mais básicos. E depois terei de ter instrumentos para fazer os instrumentos com que faço a pá de pedreiro ou o cimento. E por aí fora. Experimente ir para uma ilha deserta fazer uma casa, sem levar nada da civilização. Será extremamente difícil: não terá instrumentos à sua disposição para fazer nada, excepto as suas mãos e a sua inteligência.
Num certo sentido, é esta a dificuldade da filosofia: estamos a tentar estudar os próprios instrumentos que usamos habitualmente para pensar. Por esse motivo, falta-nos instrumentos, falta-nos apoio. Mas não estamos completamente desamparados; temos a argumentação para nos ajudar. São os