A Farsa de Inês Pereira
A Farsa de Inês Pereira foi escrita pelo dramaturgo português Gil Vicente no século XVI.
Gil Vicente é considerado por muitos como o pai do teatro português dada a sua importância no contexto literário peninsular. Este é, nas suas criações, crítico, polémico, ético, valorizando a sociedade. Com um apurado sentido de humor, os seus polémicos temas tornam-se muitas vezes histórias cómicas da vida real, criticando assim o comportamento de todos os estratos sociais: a nobreza, o clero e o povo.
Embora esta peça tenha sido publicada inicialmente sob o título Auto de Inês Pereira, o teor da peça não corresponde às exigências do que se considerava “auto” (em que os actores representavam entidades abstractas de carácter religioso ou moral) pelo que mais tarde o seu título foi alterado para A Farsa de Inês Pereira. Deste modo, Gil Vicente concebeu um novo género – a farsa – que explora situações cómicas do dia-a-dia, apelando à caricatura e ao exagero, com o objectivo de fazer rir o espectador, não tendo um propósito moralizante como a comédia.
Quando Gil Vicente começou a escrever não havia, nessa altura, modelos portugueses que ele pudesse seguir. Como tal usava o espanhol Juan del Encina como inspiração. Devido a este facto, era acusado de plagiar o autor espanhol e seu talento era assim posto em causa. Gil Vicente, para provar a autenticidade das suas obras, solicitou então um mote como desafio. O mote proposto foi: “Mais vale asno que me carregue do que cavalo que me derrube”, ditado popular da época.
Gil Vicente revê-se profundamente nesta peça, pois o excesso de rigor com que censura a calúnia reflecte que ele se sente também uma vítima desta situação.
A peça foi escrita combinando espanhol e português, característica muito comum do dramaturgo, já que naquela época as cortes eram muito próximas e falava-se uma linguagem que era amálgama das duas línguas. Tal facto dá-nos uma ideia da realidade sociocultural portuguesa