A Etnografia Como Alegoria
O argumento que conduz o raciocínio do texto é tratar a etnografia como uma alegoria, em seu sentido moderno, para evidenciar sua construção dialógica sobre duas experiências distintas entrando em contato. Nesse sentido, o peso de uma possível “verdade” na descrição é substituído por um relato processual em situações específicas. O Sentido de alegoria é expressado de maneira clara no texto.
A alegoria da escrita etnográfica é sua forma (a maneira de escrever, seu modo de textualização) e seu conteúdo (as descrições mesmas das culturas). Ela se caracteriza como: “uma representação que interpreta a si mesma” (CLIFFORD, 2011, p. 61).
No que se segue trato a própria etnografia como performance, com enredo estruturado com histórias poderosas. Encarnadas como relatos escritos, tais histórias simultaneamente descrevem acontecimentos culturais reais e fazem afirmações adicionais, morais, ideológicas e mesmo cosmológicas (CLIFFORD, 2011, p. 59)
Assim, aceitar a etnografia como alegoria, significa levar a sério suas proposições politicas de fato, modificando as formas mesmas como os textos podem ser escritos e lidos (CLIFFORD, 2011). Dessa forma, argumenta James Clifford, existe uma tendência recente em definir os níveis alegóricos como vozes específicas dentro dos textos.
A questão da alegoria, e seu foco claro na análise de textos etnográficos, é uma decisão que supera, em certa medida, os argumentos que se preocupam mais consistentemente na ideologia do texto, pois tentam evidenciar aspectos da descrição cultural, como chama Clifford, que tendem a ser minimizados, tanto na escrita como na leitura. Em termos concretos, pode-se falar em uma retomada efetiva da retórica, que é acompanhada de contestações politicas e epistemológicas dos momentos de autoridade na etnografia (CLIFFORD, 2011).
Avançando mais, em direção ao momento da contato com o comportamento humano que se estaria tentando fazer compreensível, James Clifford vai dizer:
Dizer que