A escolha de páris
Talvez aquele dia tivesse sido apenas mais um. Mas tudo mudou quando Sara — apenas conhecida por este nome, pois os amigos de rua assim lhe chamavam — abriu aquele saco de lixo à procura de comida. Poderia ter sido qualquer outro saco. Qualquer outra pessoa poderia tê-lo encontrado. Mas não. Ela tinha sido a sortuda. Sara, pobre Sara. Apenas cinco anos e tudo de que se lembrava era seu cobertor cheio de buracos, seu lugarzinho na calçada de uma das principais avenidas da cidade. Alguns amigos com quem dividia os restos de comida, mas nenhum em especial. Às vezes, tinha a sorte de encontrar um pão duro, um osso de frango ou até uma pessoa que passava correndo sem olhar para o seu rosto e, talvez sem querer, dava-lhe de esmola uma nota de dez. Mas hoje estava tudo diferente. De certa forma, quando o sol refletiu naquele lindo anel dourado, Sara não pensou em sua barriga vazia. Ficou distraída o contemplando, sem ter noção do tempo. Só voltou a ter consciência quando uma sombra escondeu o Sol. Ela fechou a mão. Não, nenhum de seus amigos poderia ver aquele anel. Não queria dividi-lo com ninguém. Mas ficou surpresa quando ouviu uma doce voz feminina. — Olá. Sara virou-se assustada.
— Oi.
Ela coçou a cabeça, constrangida. A mulher não era alguém que conhecesse. Tampouco era uma mendiga. É claro que não, suas roupas não lhe deixavam sombras de dúvida. Parecia até alguém da tevê, com aquele terninho e calça social bege.
Ela estendeu a mão.
— Eu sou Laura, uma assistente social.
Sara piscou. Pegou a mão da mulher em dúvida.
— Pode me chamar de Sara.
Laura sorriu.
— Bem, garotinha, não tenho muito tempo para explicar por que, mas você precisa fazer uma escolha. E rápido.
Sara ficou confusa. A mulher afagou seus cabelos.
— Você só pode optar por uma das três escolhas que te ofereço.
Laura tirou algo do bolso. Era uma carteira. Abriu-a e mostrou para Sara.
— Dinheiro. Você pode pegar o quanto quiser.
Sara olhou para as notas. Todas