A Elaboração do Luto
O mundo interno diante da morte: a elaboração do luto
A dor é suportável quando conseguimos acreditar que ela terá um fim e não quando fingimos que ela não existe.
Allá Bozarth-Campbell
O luto como processo individual está diretamente relacionado ao luto como processo social. Isso porque cada indivíduo está inserido em uma sociedade que, como acabamos de ver, exerce influência sobre os sentimentos e comportamentos
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gerados pelo falecimento de uma pessoa. Por esta razão, a elaboração psicológica do luto está atrelada à maneira como um grupo social pensa sobre a morte e se comporta diante dela. Em uma cultura que vê a morte de modo tranquilo, como parte da ordem natural das coisas, por exemplo, os lutos tendem a ser menos sofridos. Em outra cultura que percebe a morte como o afastamento indesejável de alguém querido, o luto costuma ser doloroso, com sentimentos intensos.
Neste capítulo, me dedicarei a apresentar o processo psicológico de elaboração do luto decorrente da concepção de morte das sociedades ocidentais do século XX. Como Ariès (1977) apontou, neste século a morte passou a ser vista por estas sociedades como uma ruptura inoportuna, que gera uma dor sentida como intolerável. O falecimento de uma pessoa tornou-se fonte de sofrimento e saudade, especialmente para aqueles que lhe eram mais próximos. O luto passou, desta forma, a ser um processo associado a sentimentos como tristeza e pesar.
Descrevo neste capítulo esse processo ocorre. Antes, porém, faz-se necessário apresentar as ideias contidas naquele que foi um dos primeiros grandes estudos sobre o luto do ponto de vista psicológico: a célebre obra “Luto e melancolia”, publicada por Freud em 1917 (Freud, 1917/1988). Este trabalho é importante pois as ideias nele contidas geraram diversos outros estudos sobre o tema. Passemos, então, a uma breve apresentação destas ideias.
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3.1.
O luto na visão de Freud
Em “Luto e melancolia” (1917/1988), Freud descreve