a economia angolana no periodo colonial
A evolução económica de Angola durante o segundo período colonial — uma tentativa de síntese
Nuno Valério * Maria Paula Fontoura*
Análise Social, vol. XXIX (129), 1994 (5.°), 1193-1208
1. INTRODUÇÃO: O «SEGUNDO PERÍODO COLONIAL»
Quando, em 1876, os últimos escravos angolanos terminaram o período de serviço que a Lei de 25 de Fevereiro de 1869 os obrigava a prestar aos seus antigos senhores, Angola era constituída por quatro distritos (Zaire, Luanda, Benguela e
Moçâmedes), abrangendo uma área de cerca de 100 000 km2 na planície litoral e um vago controle sobre entrepostos comerciais no interior. Cerca de 3000 pessoas de origem europeia e quase meio milhão de indígenas habitavam este território, cuja situação económica não era invejável, restringidas as exportações a bens resultantes de actividades de predação, tais como o tradicional marfim ou a cera, e à produção de algumas escassas plantações, principalmente de café.
Um século depois, quando, em 1975, Angola se tornou um Estado independente, a situação era completamente diferente. O território alargara-se, sobretudo com o controle dos planaltos do interior, até uma extensão de cerca de 1 247 000 km2.
A população de origem europeia aumentara até cerca de meio milhão e a população de origem africana atingia perto de 6 milhões. A economia apresentava-se próspera, quer devido à existência de exportações consideráveis de produtos agrícolas (café, algodão, açúcar, sisal e outros provenientes de plantações; milho proveniente de explorações tradicionais) e minerais (diamantes, ferro e petróleo) e mesmo de serviços
(particularmente através de trânsito para o Shaba, antigo Catanga, pelo caminho de ferro de Benguela), quer devido ao início de um processo de industrialização.
Esta comunicação visa examinar as principais transformações da economia angolana durante o século que mediou entre a abolição da escravatura e a independência, época que designaremos