A Dialética do Abstrato e do Concreto em O Capital de Karl Marx Capítulo 1. A Concepção Dialética e Metafísica do Concreto
Os termos “o abstrato” e “o concreto” são ambos empregados no discurso cotidiano e na literatura especial de maneira ambígua. Assim, alguém ouve sobre os “fatos concretos” e a “música concreta”, sobre o “pensamento abstrato” e a “pintura abstrata”, sobre a “verdade concreta” e o “trabalho abstrato”. Esse uso é em cada caso justificado aparentemente pela existência de sombras dos significados das palavras e seria um pedantismo ridículo demandar uma unificação completa do uso.
Entretanto, as coisas são diferentes quando estamos lidando não meramente com palavras ou termos, mas com os conteúdos das categorias científicas que se tornaram historicamente vinculadas com esses termos. Definições do abstrato e do concreto como categorias da lógica precisam ser estáveis e inequívocas dentro da estrutura desta ciência, pois eles são instrumentais no estabelecimento de princípios básicos do pensamento científico. Através destes termos, a lógica dialética expressa um número de princípios fundamentais (“não existe verdade abstrata, a verdade é sempre concreta”, a tese da “ascensão do abstrato ao concreto”, e assim por diante). Assim, as categorias do abstrato e do concreto têm um significado bastante definido na lógica dialética, que é intrinsicamente vinculado com a concepção materialista-dialética da verdade, a relação do pensamento com a realidade, e assim por diante. Enquanto lidarmos com essas categorias da dialética conectadas com palavras, ao invés de com as próprias palavras, qualquer licença, falta de clareza ou estabilidade em suas definições (muito menos incorreções) levarão necessariamente a uma concepção distorcida da essência da questão. Por esta razão, é necessário livrar as categorias do abstrato e do concreto das conotações que têm sido associadas a elas através dos séculos em muitos trabalhos pela tradição, pela força do hábito ou simplesmente por causa de um erro, que tem interferido