A definição de conhecimento no teeteto
Anthony Kenny
Universidade de Oxford
O Teeteto começa ao estilo de um diálogo do primeiro período. A questão proposta é "O que é o conhecimento?", e Sócrates oferece-se para fazer de parteira de modo a permitir que o jovem e brilhante matemático Teeteto dê à luz a resposta. A primeira sugestão é a de que o conhecimento consiste em coisas como a geometria e a carpintaria; mas isto não serve como definição, pois a própria palavra "conhecimento" teria de ser usada se tentássemos dar definições de geometria e de carpintaria. Aquilo de que Sócrates está à procura é aquilo que é comum a todos estes tipos de conhecimento. A segunda proposta de Teeteto é a de que o conhecimento é a percepção: conhecer algo é tomar contacto com ela por meio dos sentidos. Sócrates observa que os sentidos de pessoas diferentes são diferentemente afectados: a mesma rajada de vento pode ser sentida por um pessoa como quente e por outra como fria. "É sentida como fria" significa "parece fria", de modo que apreender através dos sentidos é o mesmo que parecer. Apenas o que é verdadeiro pode ser conhecido; assim, se o conhecimento é a percepção sensorial, teremos de aceitar a doutrina de Protágoras segundo a qual aquilo que parece é verdadeiro, ou pelo menos aquilo que parece a uma pessoa específica é verdadeiro para essa pessoa. Por detrás de Protágoras está Heraclito. Se é verdade que tudo, no mundo, está constantemente a sofrer mudanças, então as cores que vemos e as qualidades que sentimos não podem ser realidades objectivas e estáveis. Cada uma é, pelo contrário, o produto do encontro momentâneo entre um dos nossos sentidos e algum elemento transitório no fluxo universal que lhe corresponda. Quando um olho, por exemplo, entra em contacto com um seu correspondente visível, começa a ver a brancura, e o objecto começa a parecer branco. A brancura propriamente dita é gerada pela relação entre estes dois progenitores, o olho e o objecto. O