A cura da loucura
- Psicanálise e o movimento Antimanicomial -
Nos últimos dez anos, o problema da instituição psiquiátrica tem sido discutido por diversos setores da sociedade brasileira. Tendo se iniciado com um posicionamento dos trabalhadores de saúde mental, em 1987 nasce o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, se posicionando no sentido de negar o manicômio como forma de tratamento e de propor novas alternativas terapêuticas ao indivíduo portador de transtornos psíquicos.
Michel Foucault (1926-1984), em seu História da Loucura na Idade Clássica (1972), cita um quadro de Hieronymus Bosch1 chamado A Cura da Loucura (1475-1480). O subtítulo, Extração da Pedra da Loucura, faz referência a um “recurso terapêutico” razoavelmente comum na Idade Média. Hoje, não se tenta “tirar pedras da loucura”, mas pode-se dizer que “joga-se pedras” na cabeça dos loucos com os tratamentos a base de neurolépticos (sedativos do Sistema Nervoso Central), eletrochoques (verdadeiros “curtos-circuitos” cerebrais), insulinoterapia (deixa o paciente em coma) e “em último recurso” a lobotomia, como se a morte, destino da maioria dos internos, não fosse o último recurso. Tem-se usado o fato de medicamentos tornarem a vida dos “doentes” mais tolerável como argumento de que existe uma causa orgânica para todos os males mentais. Mas, tais medicamentos apenas atuam sobre efeitos do efeito e na maioria dos casos apenas aliena mais ainda a personalidade do indivíduo quando não a nega totalmente, no caso da terapêutica do manicômio.
Ronald Laing, junto com Thomas S. Szazs, criou no início dos anos setenta uma linha de pensamento e abordagem sobre a chamada doença mental que questionava a psiquiatria tradicional. A esse movimento, que com o passar dos anos cresceu em número de adeptos dentro da psiquiatria, como também de opositores, deu-se o nome de “Anti-Psiquiatria”. Ela parte do princípio de que não existe, de fato, uma entidade clínica a que se possa chamar de