A criança sob a ótica da Psicanálise: algumas considerações.
A criança sob a ótica da Psicanálise: algumas considerações.
A criança que Freud descortina sente tristeza, solidão, raiva, desejos destrutivos, vive conflitos e contradições, é portadora de sexualidade, escapa ao controle da educação e “[...] é capaz de maior parte das manifestações psíquicas do amor, por exemplo a ternura, a dedicação e o ciúme” (Freud, 1907/1976ª, p.139).
A ideia que temo hoje de criança não é um dado atemporal; através dos séculos, a ideia e o conceito de criança e de infância tem se modificado de acordo com visões de mundo peculiares a um determinado tempo e lugar.
No século XVII vemos formar-se outro sentimento da infância. No século XIX, uma nova concepção de criança e de educação se consola. A infância encarada como fraqueza que necessita da humilhação para ser melhorada, cede lugar à ideia da criança precisar ser preparada para a vida adulta, preparação que exige cuidados e uma formação com disciplina rigorosa, e efetiva sem as surras de antigamente, mas ainda recorrendo a castigos corporais mais suaves.
No final do século XIX e inicio do século XX, Freud com a Psicanálise abre um campo de investigação antes desconhecido. Introduz a noção de inconsciente e abala a confiança que a cultura ocidental deposita na razão. “descobre” a sexualidade infantil e contesta a ideia da “inocência” da criança, o que também provoca abalos na concepção que o ser humano tem dele mesmo.
A Psicanálise, então, traz um novo discurso sobre o ser humano, não como individuo (objeto da ciência), mas como marcado pelo inconsciente.
O contexto Freudiano de sexualidade questiona a noção de instinto sexual. Instinto seria um esquema de comportamento herdado, próprio de uma espécie animal, que pouco varia de um individuo para outro, que se desenrola segundo uma sequencia temporal pouco suscetível de alterações, e que parece corresponder a uma finalidade, ou seja, será uma sequencia