A Contribuição da Etnologia dos Grupos Tribais Brasileiros para o Debate Antropológico nos Anos 70
INTRODUÇÃO
No presente trabalho procuro trabalhar com um texto publicado há cerca de trinta anos por Anthony Seeger, Roberto da Matta e Eduardo Viveiros de Castro, mas que continua a orientar trabalhos atuais, "A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras" (1979). No texto em questão, os autores defendiam que era preciso "desenvolver o aspecto positivo da não-normalidade sul-americana – isto é, elaborar conceitos que deem conta do material sul-americano em seus próprios termos, evitando os modelos africanos, mediterrâneos ou melanésios" (1979, p. 7).
Diante dessa proposição, pretendo demonstrar como a reflexão de Da Matta (1976) sobre os Apinayé contribuiu significativamente para a ampliação dos estudos dessa sociedade que, tal como as demais sociedades amazônicas, foi analisada sob o crivo da "ausência" ante os modelos interpretativos à época vigentes. A análise desse autor é um caso notável para mostrar como tais sociedades têm se revelado altamente complexas em seus sofisticados sistemas sociocosmológicos, e de que maneira seus achados, analisados sob novos aportes e perspectivas, favoreceram a consolidação de uma vasta agenda de pesquisas para a antropologia nos anos 70 e 80.
Para cumprir com meu objetivo pretendo analisar os contrapontos etnográficos levantados por Da Matta (1976) em seu estudo sobre a sociedade apinayé, habitantes da Amazônia meridional, através da recordação de sua tese sobre o povo jê setentrional e seus contrastes estruturais entre o público e o privado, que estabeleciam uma separação radical entre o mundo cerimonial e o mundo doméstico, na qual se desenvolviam as atividades econômicas.
PAPEL DOS ESTUDOS SOBRE AS SOCIEDADES INDÍGENAS BRASILEIRAS PARA A TEORIA ANTROPOLÓGICA
Com o objetivo de destacar as contribuições que a etnologia dos grupos tribais brasileiros estava fazendo à Antropologia como um todo, Anthony