a consciência mítica e as funções do mito
O surgimento da maneira filosófica de pensar e perceber o mundo não foi a primeira forma e nem a única utilizada pelo homem para apreender o espaço no qual ele vive. Sabemos da existência de uma forma de consciência mítica que explicou os fenômenos e questões da natureza e da sociedade durante muitos anos.
Existe, no entanto, uma compreensão errônea de mito como algo que seria falso, mentiroso, algo que não corresponderia com a realidade. Quem nunca ouviu a expressão: “Isso não passa de mito!?” Essa expressão oriunda do senso comum designa a forma como uma parte da tradição e como nossa própria sociedade “moderna” compreende este momento mítico.
Assim como afirma Georges Gusdorf, em seu livro Mito e Metafísica, a compreensão de uma sociedade mítica já é resultado de uma análise posterior àquela em que se vivia. Logo, o próprio termo mito e mitologia são posteriores a forma de se viver miticamente.
Concepções da palavra mito como algo que designa um fato mentiroso, ou algo como sendo extraordinário, fabuloso (no caso de denominarmos alguém como mito. Exemplo: Pelé) podem ser vistas como uma repercussão da análise de sociedades modernas e pós-modernas sobre as narrativas e histórias de uma certa época. De acordo com Aranha e Martins (2009, p. 63) “O mito não é resultado de delírio, nem uma simples mentira, O mito ainda faz parte da nossa vida cotidiana, como uma das formas indispensáveis do existir humano”. Isso quer dizer que a forma como essas sociedades enxergaram períodos antigos, datados com mais de 4.000 anos, foram absorvidas pela linguagem, transformando a significação da própria palavra grega MYTHOS (do grego narrar, contar).
Logo, para entender esta visão mítica de mundo, precisamos evitar a forma como pejorativamente enxergamos os povos anteriores, parar de desvalorizá-los e caracterizá-los como primitivos ou inferiores (perspectivas etnocêntricas). Faz-se necessário entender o contexto e sua época,