A competência dos Valores
Numa sociedade onde o jargão “política, religião e futebol não se discutem” é incorporado como uma máxima a ser seguida pelos cidadãos que a compõem, inviabiliza-se o que há de mais substancial numa sociedade democrática de direito, o debate. Este, por sua vez, garante aos cidadãos o exercício de confronto e amadurecimento de ideias, que poderão vir a ser legitimadas pelas esferas competentes do Estado.
Todo enfrentamento de ideias é antes de mais nada, um confronto de valores. Isso porque as pessoas atribuem valor a determinadas formas de ser da sociedade, e a eleição destes valores podem dar-se através de concepções religiosas, humanísticas ou até mesmo positivas – entenda-se positivista. Ao adotar certos princípios, a primeira atitude de quem adota é a de absolutizar e naturalizar o objeto em questão. E ao fazê-lo, impossibilita-se outras formas de ser, seja numa compreensão do modo de ser do homem ou da organização da sociedade.
Ao incorporar a ideia central do jargão supra citado, as pessoas que compõe a sociedade alienam-se do seu dever, arguindo que as coisas são do modo que são. Ou seja, não há um outro modo de ser, se não este que é; e qualquer tentativa que for de encontro à “forma natural das coisas” é ligeiramente combatida a fim de preservar a ordem natural.
Contudo, política é desde a sua gênese grega, um debate, um confronto de ideias e visões de mundos possíveis. E não há outra forma de resguardar o modo de se fazer política, se não debatendo os assuntos pertinentes ao todo de uma sociedade. Desta maneira, transferir valores de certos grupos específicos que compõe a sociedade, afim de impô-lo ao todo, nada mais é do que uma transgressão ao direito de os demais procederem da melhor forma que lhes interessa.
No que toca especificamente o discurso religioso, vemos várias iniciativas de determinadas instituições religiosas, que buscam coagir por meio do campo político os valores a serem observados por todo o Estado. Isso