A cidade brasileira como espaço cultural
A cidade brasileira como espaço cultural
BARBARA FREITAG-ROUANET
RESUMO: O artigo discute uma tese polêmica do filósofo tcheco Vilém Flusser, que viveu mais de 30 anos em São Paulo, depois de escapar aos nazistas que ocuparam Praga. “De todas as cidades brasileiras, São Paulo é a que menos merece o título de cidade. Falta-lhe um espaço cultural inovador, apesar da riqueza e dinâmica de sua economia e de sua força política”. O conceito de cidade subjacente ao pensamento de Flusser orienta-se pelo modelo da pólis grega e da cidade de Praga, antes da Segunda Guerra. Além disso, Flusser valoriza os “novos códigos” (de linguagem, de expressão arquitetônica, estética, musical, pictoral), capazes de integrar as influências multiculturais da história brasileira. A autora procura compreender a argumentação de Flusser, hoje comparado a um Walter Benjamin da pós-modernidade, mostrando contudo que sua tese foi precipitada. Saiu nos anos 70 de São Paulo, antes do fim da ditadura; não conheceu as grandes realizações da Bienal de Arte Moderna; não conheceu o ciclo de realizações Arte e Cidade no fim da década de 90, essencialmente baseado nas tecnologias da micro eletrônica da era digital, do PC e da internet, que ela festejava como “novas linguagens”.
UNITERMOS: cultura urbana, sociologia urbana, cidades brasileiras.
Praga como ponto de partida
V
ilém Flusser (1920-1991), filósofo nascido e falecido em Praga, viveu durante 32 anos na cidade de São Paulo, onde se refugiou com sua família da perseguição nazista. Voltou para a Europa (Aix-en-Provence) em 1972 e passou a escrever e publicar basicamente em alemão. Hoje,
Professora do Departamento de Sociologia do ICS - UnB 29
FREITAG-ROUANET, Barbara. A cidade brasileira como espaço cultural.