A cidadania em t.h. marshall (uma contribuição à crítica da cidadania liberal)
Introdução
Então, verás, um dia, o cidadão e a real cidadania. Samba de Enredo do G.R.E.S. Império Serrano/1996
É possível continuarmos invocando a cidadania para caracterizar uma perspectiva "avançada" em educação? Ou será que o conceito liberal de cidadania impossibilita sua utilização? Este trabalho pretende contribuir para a compreensão do atual conceito de cidadania, que tem se tornado hegemônico, fornecendo subsídios para responder a essas questões. A palavra cidadania tem sido amplamente utilizada; encaixa-se muito bem nos mais diversos discursos. Desde os educadores de quaisquer matizes ideológicos aos artistas populares, passando por campanhas televisivas ditas solidárias e por textos acadêmicos, este vocábulo aparenta possuir uma magia conciliadora, que pode convencer sem esforço argumentativo. Parece funcionar como um recurso discursivo para representar algo que não se sabe bem o que é, ou que é difícil explicar ou, ainda, que não é prudente revelar. Ou seja, seria um termo "coringa". É o que nos revelam, por exemplo, os trechos a seguir, retirados de diversos documentos. Uma revista da área empresarial publicou, em maio de 1996, alguns artigos que se completavam, abordando o tema "Educação de qualidade", onde se lê:
Enfim, educação significa para qualquer país a possibilidade concreta de realizar a modernidade, no sentido da conquista da cidadania real [sem grifo no original] para todos. (ADMINISTRAÇÃO DE NEGÓCIOS, p.206)[1]
O mesmo artigo declara que a melhoria da qualidade na educação é condição para a melhoria do trabalho empresarial e num outro artigo - sobre o mesmo tema e que lhe é complementar - a política educacional adotada pelo atual governo federal é vista como adequada à formação do cidadão, devendo ter continuidade. Esta perspectiva é bem