A cartomante - Roteiro
NARRADOR 1 (ajeita o óculos)
Hamlet observa a Horácio que há mais coisas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido à véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
RITA
Pode rir os homens são assim mesmo; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissese o que era. Apenas começou a botar as cartas, e disse: "Você gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim disse que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
CAMILO
Pois é, Errou!
RITA
Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já te disse isso. Não ria de mim, não ria...
CAMILO
Onde é a casa?
RITA
Aqui perto, na rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
CAMILO
Serio que você acredita nessas coisas?
NARRADOR 2 ( fazendo suspense)
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muita coisa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais?
NARRADOR (nervoso)
NARRADOR 2
No dia em que se deu conta camilo
Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.
NARRADOR 1
A CENA ACONTECE SIMULTANEAMENTE COM A DESCRIÇÃO DO NARRADOR 1.