A Cartomante
A CARTOMANTE
O conto "A Cartomante" pode ser tomado como modelo exemplar da teoria do conto: unidade de ação, tempo, espaço, objetividade e poucas personagens, isto considerando a teoria do conto dentro de uma visão mais tradicional. Observe que a ação gira em torno de um caso de adultério entre Camilo e Rita, esposa de Vilela, amigo de infância de Camilo, o que - por sinal- favorece o adultério.
Como já falamos, a história está centrada num triângulo amoroso, por sinal um tema marcante na literatura machadiana. A narrativa contudo, não é linear, pois o relato começa pelo meio, quando Rita e Camilo já são amantes há algum tempo e andam preocupados com a possibilidade da descoberta da relação de ambos por Vilela. Usando a técnica do "flash-back", a partir do quinto parágrafo o narrador intervém na narrativa para lhe dar uma ordem temporal. Esse recurso vai permitir ao leitor um apoio na linearidade passado – presente -futuro.
"A Cartomante" além de ser um clássico exemplo para a teoria do conto é, também, um claro exemplo do conto de "suspense", o que pode ser percebido a partir do momento em que Camilo recebe na repartição, o bilhete de Vilela. A partir daí o narrador cria a expectativa de que algo chocante vai acontecer na casa de Vilela. Em seguida, quebra essa tensão através da presença da cartomante diante de Camilo dando-lhe tranqüilidade, e assegurando-lhe que nada de mal lhe aconteceria, para no final acontecer tudo ao contrário, ou seja, o duplo assassinato cometido pelo marido traído.
Além de ser um conto muito significativo do ponto de vista da ação e da estrutura, "A Cartomante" é um conto que serve mais uma vez para nos revelar o mundo e o pensamento de Machado de Assis diante dos destinos do homem, marcado pela ambigüidade e tragédia, o que seria talvez uma forma de revelação da nossa frágil condição humana, segundo as idéias machadianas. Observe que já no início do conto, mais especificamente nos dois