a cartomante
CONTO: A CARTOMANTE
É possível observar já nas primeiras palavras do texto que Machado de Assis faz referência à intertextualidade, pois cita uma célebre frase de Shakespeare, “Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia”, o que indica o possível tom dramático que viria logo a seguir. Por ser um escritor realista, acaba por criticar os usos e costumes da sociedade e suas instituições, pois as contradições da natureza humana e a deturpação dos bons costumes estão presentes em nosso meio desde os primórdios. Muito provavelmente esse conto é uma crítica, até certo ponto irônica, aos padrões comportamentais pregados na época, relatando segredos e ardilezas mais profundas (mulher que trai o marido, amigo traindo melhor amigo, presença do místico, etc.), indicando, inclusive, um oposição ao movimento romântico. Trata-se de uma narrativa dramática, apresentando a figura do narrador onisciente (tudo sabe), personagens, noções de tempo e espaço.
O enredo nos traz a trama que envolve um triângulo amoroso entre Vilela e Camilo, amigos de infância, e Rita (esposa do primeiro), uma paixão proibida e um adultério, que no fim se mostrou trágico, como não poderiam deixar de ser. No entanto não é esse o tema principal da obra e sim o misticismo indicado pela personagem “cartomante”, a qual tem papel fundamental para os resultados que encadearam todo o drama que se seguirá, inclusive o mistério dá nome ao conto. Até mesmo em relação a Camilo, que a princípio era cético, mas quando se apercebeu em um momento crucial de sua vida socorreu-se aos conselhos da “adivinha”. Essa é uma atitude contraditória característica do ser humano, pois quando em estado de aflição, mesmo o agnóstico, socorre-se de todas as crenças possíveis para ter o seu anseio atendido, a exemplo de um familiar que esteja doente e acredita-se em qualquer ritual ou misticismo como uma provável cura.
O autor ao caracterizar os