A Cancao De Rolando
A Canção de Rolando
A CANÇÃO DE ROLANDO
A CANÇÃO DE GESTA E O ÉPICO MEDIEVAL1
O ÉPICO
Costuma-se encarar o épico como a narrativa de proezas gloriosas, praticadas por um herói, num tempo remoto. Todos estes pontos podem ser debatidos. A narrativa, em prosa ou em verso (e neste caso corresponde a momentos inaugurais, mais primitivos, de uma sociedade/literatura), mescla-se de descrições – de objetos, cenas, ambientes, personagens, encontrando-se ambas indissoluvelmente ligadas. O texto pode se difundir através da transmissão oral ou escrita, respectivamente pelas vias popular e erudita. No primeiro caso, vem muitas vezes acoplado ao canto, com melodia e instrumentos específicos. Os grandes feitos não são necessariamente heróicos. Eles se prendem àqueles que os praticam dentro de um contexto histórico-social específico. Com o passar do tempo, o contingente é eliminado e tais feitos – sempre associados a contendas, disputas, batalhas e guerras – são esvaziados de seu ambiente real, simplificados e purificados, tornando-se assim exemplares, típicos, lineares, idealizados. Com esta desrealização os personagens travestem-se em gloriosos heróis de ações superlativadas, a serviço de uma causa – naturalmente justa – um chefe, uma raça, um sistema de valores, no embate maniqueísta entre o Bem e o Mal.
Assim, numa primeira fase percebe-se o ser humano em sua individualidade – características pessoais, família, geografia definida, eventos reais reconhecíveis e verificáveis com respeito ao referente da sociedade. É o caso do Cantar de Mio Cid, com menos de um século de distância entre o fato real e a transcrição literária. No caso da Canção de Rolando, onde quatro séculos medeiam entre o evento real e o mais antigo manuscrito conhecido, o da biblioteca inglesa de Oxford, os personagens se investem de características ideais, perdem o quotidiano, para se tornarem quase que meras abstrações. E se a distância for maior ainda,