A CACHOEIRA DE PAULO AFONSO
Castro Alves
Poesia:
1. A tarde
2. Maria
3. O baile na flor
4. Na margem
5. A queimada
6. Lucas
7. Tirana
8. A senzala
9. Diálogo dos ecos
10.O nadador
11.No barco
12.Adeus
13.Mudo e quedo
14.No fonte
15.Nos campos
16.No monte
17.Sangue de africano
18.Amante
19.Anjo
20.Desespero
21.História de um crime
22.Último abraço
23.Mãe penitente
24.O segredo
25.Crepúsculo sertanejo
26.O bandolim da desgraça
27.A canoa fantástica
28.O São Francisco
29.A cachoeira
30.Um raio de luar
31.Desperta para morrer
32.Loucura divina
33.A beira do abismo e do infinito
34.A cachoeira de Paulo Afonso
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A tarde
Era a hora em que a tarde se debruça
Lá da crista das serras mais remotas...
E d'araponga o canto, que soluça,
Acorda os ecos nas sombrias grotas;
Quando sobre a lagoa, que s'embuça,
Passa o bando selvagem das gaivotas ...
E a onça sobre as lapas salta urrando,
Da cordilheira os visos abalando.
Era a hora em que os cardos rumorejam
Como um abrir de bocas inspiradas,
E os angicos as comas espanejam
Pelos dedos das auras perfumadas ...
A hora em que as gardênias, que se beijam,
São tímidas, medrosas desposadas;
E a pedra... a flor... as selvas ... os condores
Gaguejam... falam... cantam seus amores!
Hora meiga da Tarde! Como és bela
Quando surges do azul da zona ardente!
... Tu és do céu a pálida donzela,
Que se banha nas termas do oriente...
Quando é gota do banho cada estrela.
Que te rola da espádua refulgente...
E, — prendendo-te a trança a meia lua,
Te enrolas em neblinas seminua!...
Eu amo-te, ó mimosa do infinito!
Tu me lembras o tempo em que era infante.
Inda adora-te o peito do precito
No meio do martírio excruciante;
E, se não te dá mais da infância o grito
Que menino elevava-te arrogante,
É que agora os martírios foram tantos,
Que mesmo para o riso só tem prantos! ...
Mas não m'esqueço nunca dos fraguedos
Onde infante selvagem me