A arte da manipulação
Alguns anos atrás trabalhei com uma professora cuja virtude não era a pontualidade. Ela sempre chegava uns 40 minutos atrasada. Eu, angustiado de ver a classe esperando, acabava iniciando a aula dela até que ela chegasse, quando assumia e continuava do ponto em que eu havia parado. Foi assim durante todo um semestre, ao fim do qual os alunos fizeram a avaliação dos seus professores. Ela acabou sendo melhor avaliada do que eu, um resultado possível, sem nada de especial. Mas um item me deixou perplexo: pontualidade. Os alunos a avaliavam como mais pontual do que eu, embora ela tivesse chegado atrasada na maior parte das aulas e eu a tivesse substituído nesses atrasos! Esse era um quesito que não comportava subjetividade e os fatos eram inequívocos. Por que essa avaliação claramente distorcida? Eu iria descobrir a resposta alguns meses mais tarde, através de um grupo de alunos que acabou confidenciando para mim: tudo se explicava pelo fato dela ser uma professora mais “legal” do que eu no quesito provas, correção das provas e leniência com cola durante as provas. Ela era insegura como docente e desenvolveu uma forma de lidar com isso, sendo bastante permissiva com as avaliações. Os alunos se “afeiçoaram” à professora que era legal com eles, eliminando os riscos de reprovação. Ela havia conseguido tocar o coração dos alunos – não pelos motivos virtuosos que a palavra “coração” costuma inspirar. E eles a premiaram fazendo uma avaliação bastante positiva dela como docente, em um item que sofreu um viés escandaloso. Eu reaprendi uma antiga lição: longe de serem objetivas e fiéis reveladoras do desempenho docente, as avaliações feitas pelos alunos refletem mais os laços afetivos que critérios objetivos. Não seria a única e nem a última vez que eu me depararia com uma situação dessas.
O toque de Midas dos vigaristas passa pelo Sistema Límbico
Não acho que minha colega tenha planejado nada – embora condenável, foi mais uma atitude de autodefesa sem má