A análise marxista sobre a escravidão negra no Brasil Colonial
A importância estrutural do trabalho escravo negro na formação do Brasil é amplamente reconhecida pela historiografia tradicional , sendo concebido como um sistema. Entretanto, as linhas interpretativas sobre o caráter do sistema escravista são, ainda hoje, alvos de controvérsias.
No presente trabalho pretendemos abordar aspectos da interpretação e metodologia utilizada por alguns historiadores marxistas na análise do sistema escravista brasileiro. Tais historiadores inserem esse sistema em estruturas históricas e modelos econômicos mais amplos, entendendo a escravidão como "pedra basilar no processo de acumulação do capital, instituída para sustentar dois grandes ícones do capitalismo comercial: mercado e lucro" . A coersão e repressão constituem-se como as principais formas de controle social do escravo, sendo as duas camadas sociais da colônia - escravo e homem livre - "dois mundos cultural e socialmente separados, antagônicos e irredutíveis um ao outro" a despeito de toda forma de contato, intercomunicações e intimidades.
JUSTIFICATIVA E ESPECÍFICAÇÃO DO TEMA
O debate histórico sobre o caráter do sistema escravista no Brasil se inicia nas primeiras décadas do século XX, com as discussões sobre a influência moral negativa dos negros à formação do povo brasileiro, linha de pensamento esta que se articulava a idéias racistas e cientificistas bastante em voga na europa. A discussão toma outro rumo a partir da obra do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, que com novos métodos de pesquisa e interpretação, defende o caráter brando e benevolente de nossa escravidão, sobretudo se comparado a outras colônias americanas. Tais idéias permaneceram por muito tempo sem contestação, influenciando pensadores mundo afora. É somente no pós-guerra, com a derrota do nazismo e das idéias de constituição de uma raça pura, bem como com o surgimento de movimentos de luta pelos direitos civis dos negros,