A amizade para os filósofos
Não poucos filósofos dedicaram-se à análise da amizade, o que revela por si só algo que todos podem sentir intuir, mas que é de difícil definição. De Aristóteles importa guardar, por hora, que a amizade é uma forma de excelência moral ou, a depender da tradução empregada, uma virtude. Tal virtude se manifesta na boa vontade recíproca entre duas pessoas que desejam bem. A amizade difere do amor, ainda segundo Aristóteles, exatamente pelo aspecto da reciprocidade. É possível amar-se algo sem que este saiba, corresponda ou possa corresponder ao amor que lhe é dedicado. A amizade, ao contrário, só se manifesta entre as pessoas que se querem bem reciprocamente. Para Sêneca, o amor é uma amizade tomada pela loucura. Bem se vê, aqui, que o conceito de amor tomado por Sêneca é limitado ao que se forma entre duas pessoas, reciprocamente, por isto ele se aproximaria da amizade, mas dela diferindo pela nota da loucura. Dando um grande salto na linha do tempo, é interessante observar o que diz Kant a respeito do assunto. Em suas lições de Ética, ele identifica dois agentes a moverem o homem. Um é o amor próprio, que nasce do próprio homem e faz com ele busque sua própria felicidade, o outro, o agente moral, poderia ser identificado com o amor universal da humanidade, ou seja, com o desejo de proporcionar a felicidade dos outros. O amor próprio leva cada um a cuidar de si próprio a buscar a própria felicidade, o que, se for jeito sem prejuízo de ninguém, é um indiferente moral, ou seja, é moralmente aceito, mas não revela qualquer mérito de quem exercita. A amizade por seu turno estaria identificada como o segundo agente, o amor universal da humanidade, e, fosse possível a amizade de todos os homens entre si, cada um cuidaria de seu próximo e seria cuidado por ele, daí decorrendo a felicidade de todos, sem prejuízo de ninguém. Nas palavras de Kant, é esta idéia de amizade, “em que o amor próprio é suplantado por uma generosa reciprocidade de amor”.
Amor,