A Ambiguidade da voz das crianças
Sirkka Komulainen
As vozes das crianças ainda não são levadas em conta nos processo de decisão que afetam diretamente suas vidas. Discussões sobre a voz da criança tem levantado debates complexos sobre o que fazer com as competências, idade e maturidade das crianças e a credibilidade das suas declarações. A autora acredita que, durante o processo de pesquisa, uma desconstrução sociológica das vozes das crianças fez-se necessária para que a noção de ‘voz’ fosse entendida como uma construção social multidimensional que está sujeita a mudanças. Ao mesmo tempo, vozes manifestam discursos, práticas e contextos onde elas ocorrem. Como Bakhtin argumenta: “vozes” são sempre sociais.
Antes de nós simplesmente “darmos uma voz” para as crianças, nós precisamos reconhecer que existem ambiguidades envolvidas na comunicação humana e que essas ambiguidades resultam da “sociabilidade” da interação, discurso e práticas humanas. O discurso dos direitos das crianças enfatiza a mensagem que crianças deveriam ser ouvidas pelos adultos que tomam decisões sobre as suas vidas e que estão envolvidos em pesquisas sobre/com crianças. Mas quais são as vozes das crianças e como ouvi-las? No contexto da proteção da criança, Lee (2000) observou uma mudança no corpo da “voz”. Essa mudança é similar a mudança promovida nos estudos da incapacidade, onde o objetivo é alcançar a mudança social e ressaltar a deficiência dos direitos humanos. Ao mesmo tempo, está sendo argumentado que essa (incapacidade) necessidade e direitos da criança são constructos sociais e que esses constructos são inter-relacionados e muitas vezes contraditório.
Conceituando a infância em termos de “necessidade” reflete o status distintivo concedido aos jovens nas sociedades ocidentais contemporâneas. Não menos, o conceito de “necessidade” oculta na prática um complexo de uma latente suposição cultural e pessoal e julgamentos sobre as crianças, que não são atributáveis