A Africa Inventada
É recorrente nos compêndios que apresentam a ideia de uma história da civilização ocidental, o equívoco no tratamento do referencial que diz respeito ao continente africano e às suas gentes. Estes se apresentam ligados à construção de um conhecimento cuja gênese remonta ao século XVI, quando surge o racionalismo como método que se desenvolve e se consolida mais tarde, entre a segunda metade do século XVIII e a primeira metade do século XIX, passando a dominar o pensamento ocidental. Integra a construção de um “saber moderno” que permeia a formulação de princípios políticos, étnicos e morais, fundamentando os colonialistas do final do oitocentos. Seus efeitos prolongam-se até os nossos dias, deixando fortes marcas nas ciências humanas e, em particular, na antropologia e na historiografia da África.
As ideias dessa “produção dos tempos modernos” revestem-se de uma legitimidade cientifica que deriva do par dicotômico saber-poder que se instala e se conserva fiel a regra de que “[...] não é qualquer um que pode dizer a qualquer outro qualquer coisa em qualquer lugar e em qualquer circunstancia. Em outras palavras, a atividade do conhecer passa a ser reconhecida como um privilegio dos que são considerados mais capazes, sendo-lhes, por isso, conferida a tarefa de formular uma nova visão do mundo, capaz de compreender, explicar e universalizar o processo histórico.
Significa dizer que o saber ocidental constrói uma nova consciência planetária constituída por visões de mundo, auto-imagens e esteriótipos que põem um “olhar imperial” sobre o universo.
Assim, o conjunto de escrituras sobre a África, em particular entre as ultimas décadas do século XIX e os meados do XX, contém equívocos, pré-noções e preconceitos decorrentes, em grande parte, das lacunas do conhecimento quando não do próprio desconhecimento sobre o continente africano.
Os estudos sobre esse mundo não ocidental foram, antes de tudo, instrumentos de política nacional, contribuindo,