A abolição
Por um simples ato legislativo endossado pela Coroa no dia 13 de maio de 1888 e aclamado pela maioria da população, eliminava-se uma instituição que vigorara por mais de três séculos. Por mais longos e difíceis que tivessem sido dos caminhos da Abolição, chegava-se ao fim, sem que fosse preciso lançar o país em uma guerra civil, como sucedera nos Estados Unidos. Lá os escravos só conquistaram sua liberdade depois de longa e cruenta guerra, na qual os proprietários de escravos e seus aliados defenderam, de armas na mão, sua propriedade ameaçada pelo governo da União. E a despeito dos receios que alguns proprietários de escravos sentiram por ocasião da abolição, o país não se viu às voltas com uma guerra entre as raças, comparável àquela que resultara nos massacres de São Domingos. As catástrofes anunciadas por aqueles que esperavam ver a economia do país destruída também não ocorreram. Depois de um breve período de desorganização, a vida se normalizou. Nas cidades e nas fazendas, a produção reassumiu o ritmo anterior. Para alguns fazendeiros, a abolição representou a ruína e a perda de status. Os que esperavam ser indenizados pela perda de seus escravos viram seus sonhos frustrados. Desiludidos, voltaram-se contra o governo que os levara à ruína. Mas seus ressentimentos e protestos perderam-se entre as exclamações de júbilo dos escravos e de todos aqueles que se haviam identificado com a causa da abolição. O Brasil era o último país do mundo ocidental a eliminar a escravidão e para a maioria dos parlamentares que se tinham empenhado pela abolição a questão estava encerrada. Os ex-escravos foram abandonados à própria sorte. Caberia a eles, daí por diante, converter sua emancipação em realidade. Se a lei lhes garantia status jurídico de homens livres, ela não lhes fornecia os meios para tornar sua liberdade efetiva. A igualdade jurídica não era suficiente para eliminar as enormes distâncias sociais e os preconceitos que mais de trezentos anos de