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Honoré de Balzac
Nos começos da vida literária do autor, um seu amigo, morto há muito tempo, deu-lhe o assunto para este estudo, que mais tarde encontrou numa colecção publicada nos princípios deste século. Segundo as suas conjecturas, trata-se de uma fantasia devida a um tal Hoffman, de Berlim, publicada nalgum almanaque alemão e esquecida pelos editores das suas obras.
A «Comédia Humana», é suficientemente rica de imaginação para que o autor possa confessar um inocente plágio. Não se trata, portanto, de uma dessas brincadeiras à moda de 1850, em que todos os escritores inventavam atrocidades para regalo das meninas da época.
Assim, quando tiverdes chegado ao engenhoso parricídio de D. Juan, tentai advinhar a conduta que teriam, em circunstâncias mais ou menos semelhantes, as pessoas honestas que, no Século XIX, recebem uma pensão vitalícia sob o pretexto de um catarro ou as que alugam casa a uma velha para o resto dos seus dias. Ressuscitariam essas pessoas os seus providenciais credores?
Por outra, desejaríamos que juizes conscienciosos determinassem o grau de semelhança que pode existir entre D. Juan e os pais que casam os seus filhos na mira de ambicionadas heranças.
A sociedade humana que, no entender dos filósofos, caminha na via do
Progresso, considera como um passo para o bem individual a arte de esperar pela morte de alguém abastado. Esta expectativa deu lugar a profissões tidas por honestas, mercê das quais se vive à custa de futuros defuntos. Há mesmo aqueles que têm como condição social aguardar o falecimento de parentes ricos. Parecem agachar-se todas as manhãs para chocarem os seus futuros
cadáveres e fazem disto, todas as noites, o seu confiado travesseiro. São, por vezes, gente
digna,
como
eminências,
coadjutores,
empregados
supranumerários ou associados dessas instituições de previdência chamadas tontinas. Juntemos-lhes aqueles indivíduos empenhados em adquirir uma