Zona canavieira Pernambuco

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de História

ANÁLISE DOS PROCESSOS TRABALHISTAS DA JUNTA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO DE GOIANA (1963-64) RELACIONADOS A TRABALHADORES NA ATIVIDADE SUCROALCOOLEIRA

Aluno: Kaio Marcelo Soares Lacet
Orientadora: Christine Paulette Yves Rufino Dabat

INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da ocupação europeia do Novo Mundo, a terra no Nordeste brasileiro, destinada ao cultivo da cana de açúcar, foi reservada à dominação de poucos. Sob a forma da plantation, como definiram Mintz e Wolf1, um sistema produtivo combinando latifúndio e monocultura, era voltado para o abastecimento dos mercados externos e marcado pela exploração da terra e da mão de obra. Sobre essa última, a escravidão, “desenvolveu-se inextricavelmente ligada ao complexo açucareiro”, como aponta Vera Lúcia Ferlini2.
O elemento crucial na manufatura do açúcar foram os escravos. Suas condições de vida e trabalho são fundamentais para explicar a natureza da sociedade que se originou da economia açucareira. As relações dos cativos com os engenhos e com os meios e processos de produção são de interesse primordial3
A sociedade polarizada entre a aristocracia do açúcar, alicerceada na concentração da propriedade fundiária, e os escravos, deixou marcas de sua longevidade secular nas relações de trabalho subsequentes à abolição. Ao longo dos anos, “nenhuma comoção profunda foi capaz de alterar duravelmente as bases dessa sociedade tão desigual”4.
A não ruptura na estabilidade das posições sociais nessa atividade econômica, como sublinhou Eisenberg5, foi muitas vezes assegurada pelo aparato estatal. O Estado tanto financiou a modernização no parque industrial açucareiro da Zona da Mata de Pernambuco, como contribuiu para reprimir as organizações reivindicativas das classes trabalhadoras.
A usina representava um terceiro estágio de um processo dialético. Do século XVI ao fim do século XIX, os engenhos de cana tradicionais