Xenofobia no mercado de trabalho dos eua
Do Congresso aos movimentos populares, ativistas anti-imigração encontram na recessão dos EUA um prato cada vez mais cheio para aumentar seus protestos. E, embora os slogans não sejam inéditos, o novo contexto econômico oferece a cultura ideal para a proliferação de ecos perigosos, dizem analistas.
Veio do Congresso o exemplo mais recente da pressão. Quando a Microsoft anunciou no último dia 22 que demitiria mais de 5.000 por causa da crise, o senador republicano Chuck Grassley, de Iowa, escreveu uma carta à empresa pedindo que seu executivo-chefe dispensasse primeiro trabalhadores estrangeiros com visto H-1B (de trabalho qualificado temporário).
A Microsoft tem uma obrigação moral de proteger os trabalhadores americanos ao priorizar seus empregos durante esses tempos difíceis", disse.
Organizações civis seguem na mesma linha. A Coalizão para o Futuro do Trabalhador Americano (CFAW), que reúne grupos anti-imigração, iniciou em 2009 uma campanha de TV associando o desemprego aos trabalhadores estrangeiros, como os com o visto H-1B.
"No ano passado, 2,5 milhões de americanos perderam seus empregos", diz o comercial. "Ainda assim, o governo continua a trazer para os EUA 1,5 milhão de estrangeiros por ano para pegar os postos de trabalho americanos. Será o seu emprego o próximo?"
O analista do Council on Foreign Relations Edward Alden, autor de "O Fechamento da Fronteira Americana" ("The Closing of the American Border", HarperCollins), diz que nem a Microsoft pode legalmente demitir só estrangeiros nem os cálculos da CFAW estão corretos. "Mas sem dúvida ambos encontram na recessão um ambiente social muito propício a aceitar esses argumentos."
Alden afirma que a cifra de 1,5 milhão sugerida pela CFAW é baseada em estimativas antigas e inclui imigrantes legais e ilegais. Segundo ele, entram com o H-1B no máximo 65 mil estrangeiros anualmente. Outros 20 mil que fazem pós-graduação também recebem o visto.