Vírgula em Guimarães Rosa
Bruna Barros Pessoa
Resumo: Neste trabalho é feita uma análise gramatical do uso da vírgula em cinco contos de Tutaméia de Guimarães Rosa. A partir desta análise, feita de acordo com a Gramática Houaiss, foi percebido que o autor utiliza-se da vírgula até mesmo em casos de agramaticalidade, que se justifica, simples e obviamente (no caso de ser o autor Guimarães Rosa), pelo uso estilístico e prosódico da pausa.
Palavras-chave: Guimarães Rosa. Prosódia. Pontuação. Literatura brasileira.
Introdução e problematização
Os textos literários de João Guimarães Rosa são marcados pela musicalidade das palavras e pela minuciosidade da pontuação. Como pode-se notar ao ler seus contos e romances, os sinais gráficos permeiam toda sua obra, sendo uma de suas características mais marcantes. De apóstrofos a dois pontos, de travessão a reticências, a escrita Rosa não mostra economia desses sinais. Muito menos da vírgula, objeto de estudo desta pesquisa.
Entretanto, na obra de Guimarães Rosa encontram-se muitos casos de uso incorreto (do ponto de vista da gramática normativa) dessa marca gráfica de pontuação, sinalizando que o uso da vírgula é justificável pelo autor, acima das regras gramaticais, para a marcação prosódica e estilística de seu texto.
O objetivo deste trabalho é discutir tal fenômeno como uma possibilidade dada pela língua portuguesa, ou seja, mesmo “desrespeitando” a regra gramatical, o texto é compreendido pelos seus leitores.
Corpus
Para tanto, foram escolhidos os cinco primeiros contos do livro Tutaméia. Este livro foi escolhido em detrimento de Primeiras estórias ou de Sagarana pois buscou-se por contos em que o uso da pontuação fosse o mais variado e de maior complexidade possível, que atingissem o nível de “excepcional habilidade”, como diz Paulo Ronái no prefácio da 8ª edição e reafirma que “as maiores ousadias desse estilo, as que o tornam por vezes contundente e