Vulnerabilidade socioeconomica
Unidos, França e Brasil*
Lúcio Kowarick
Rev. bras. Ci. Soc. v.18 n.51 São Paulo fev. 2003
RESUMO
O artigo analisa a evolução do debate acerca da vulnerabilidade socioeconômica nos Estados
Unidos e na França, com comentários finais sobre a atualidade brasileira. No caso norteamericano, a discussão é abertamente política-ideológica culpar ou não as vítimas por sua situação de marginalização e anomia e centra-se em torno do conceito de underclass, o que leva alguns autores a responsabilizar os programas de bem-estar no fomento da ociosidade e desorganização familiar. No caso francês, ao contrário, seguindo a tradição republicana, os diagnósticos e as propostas enfatizam a necessidade de uma forte presença estatal, que deve fornecer os meios de (re) inserção dos grupos marginalizados. A polêmica se dá em torno dos conceitos de exclusão social e desafiliação. O ensaio não visa realizar um balanço crítico da literatura, mas, a partir de obras seminais, mostrar os parâmetros que essa problemática teórica e empírica adquire em função das especificidades de cada ambiente político nacional; daí as observações finais sobre a sociedade brasileira.
Palavras-chave: Exclusão e vulnerabilidade social; Sesafiliação; underclass; (Sub)cidadania.
Introdução
A única unidade que é possível, portanto, reivindicar a respeito destes temas [exclusão, underclass e marginalidade] é que eles colocam em causa, só por sua presença, os princípios que fundamentam a ordem social.
Didier Fassin, 1996.
Este ensaio tem por objetivo analisar os significados de uma discussão que se apóia em temas e termos diversos nos Estados Unidos e na França, com comentários finais acerca da sociedade brasileira. Não pretendo fazer um estudo comparativo, pois trata-se antes de realizar o que pode ser designado de olhares cruzados, captando o que há de essencial no debate acadêmico dessas sociedades. O tema diz respeito à vasta