Visões da natureza e a formação de paradigmas geográficos
Lúcia Cony Faria Cidade
Professora do Departamento de Geografia do Instituto de Ciências Humanas da
Universidade de Brasília e do Centro de Desenvolvimento Sustentável –
CDS/UnB.
Pesquisadora do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais – NEUR/CEAM/UnB.
Correio eletrônico: cony@unb.br
Resumo
A emergência da questão ambiental e de uma concepção da natureza como universal, em oposição à prevalecente representação da natureza como objeto, propiciou uma valorização da geografia. No âmbito dessa disciplina, há diversas explicações para a tendência a uma separação entre sociedade e natureza no pensamento moderno. O que parece claro é que tanto as relações materiais como o campo ideológico têm contribu- ído para essa separação. Em sociedades humanas primitivas e na sociedade ocidental até o final do século XVIII, é possível estabelecer relações entre contexto social e material, visões de mundo, visões da natureza e pensamento geográfico. O mesmo pode ser inferido para os séculos XIX e XX. Enquanto a separação entre sociedade e natureza é antiga, o capitalismo, juntamente com os sistemas de conhecimento associ- ados à sua emergência, tornou mais aguda essa separação, estabelecendo tendências a uma ruptura. Essas constatações, no entanto, representam apenas um lado da questão de como resolver os obstáculos metodológicos envolvidos.
Palavras-chave
Relações sociedade natureza – visões de mundo – paradigmas geográficos.
Terra Livre São Paulo n. 17 p. 99-118 2 o semestre/2001
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Introdução
A ciência moderna, ao mesmo tempo em que provocou uma indiscutível expansão dos horizontes do conhecimento, vem apresentando sinais de crise. No sistema moderno, a razão, o método analítico e a separação sujeito-objeto têm sido considerados pilares de incontáveis conquistas científicas. No entanto, descobertas da física em direção aos mun-