Violência, criminalidade e justiça | Desde a década de 1980, os níveis da violência e da criminalidade no Brasil aumentaram contínua e significativamente, especialmente nas maiores áreas urbanas. Este fenômeno, cujas causas são diversas e, em certa medida, controversas, transformou-se num dos problemas mais discutidos pela sociedade brasileira. Todos os dias, o país assiste nas telas de televisão a multiplicação de episódios dramáticos de violência no campo, nas favelas e nas periferias urbanas. Conseqüentemente, adquire proporções enormes a sensação de insegurança entre os moradores dos bairros pobres e de classe média, nos quais as pessoas falam não só dos criminosos que transgridem as leis, mas também que a justiça não funciona, a polícia falha e desrespeita a lei.Os historiadores brasileiros não ficaram indiferentes a esse problema. A produção historiográfica nacional dedica atenção crescente ao tema, do que resultaram trabalhos sobre as dificuldades e estratégias empregadas para impor a ordem pública, a estrutura e a operação cotidiana dos órgãos do sistema de justiça criminal, as representações de setores da população sobre o crime e os criminosos.Grosso modo, essa historiografia pode ser dividida em dois ramos. De um lado, há as pesquisas voltadas para o tema das formas de violência nas relações senhor-escravo e para as dinâmicas repressivas do Estado no controle dos homens livres pobres e dos cativos. Chamemos esse ramo de “controle dos povos e combate aos facinorosos”. De outro lado, estão os estudos que focalizam o problema do controle social, a montagem do aparato da ordem e o funcionamento dos aparelhos repressivos do Estado, a que chamaremos de “controle da violência criminal e aparato policial/judiciário”.Os trabalhos do primeiro tipo enxergam a violência e a criminalidade como epifenômenos, isto é, sinais que permitem visualizar as tensões relacionadas ao exercício rotineiro do mando (estatal e/ou privado) e à imposição da ordem pública, em