vilem flusser e as imagens tecnicas
R.
1. A pergunta inicial que se coloca em pauta no livro de Flusser Filosofia da Caixa Preta (1983) é sobre o processo de abstração pelo intelecto humano para compreensão da realidade. Para tanto, a forma de “controle” dessa compreensão faz-se pelo meio de contar tal contato para o mundo. Isto é, num primeiro momento, os homens produziram a imagem - tomando no sentido mais rudimentar, ou tradicional. A criação de imagens é, então, a primeira forma de traduzir e comunicar os pensamentos sobre o mundo. Esse processo de abstração se dá juntamente com os significados à vista na superfície pictórica, quer dizer, nas palavras de Flusser, o traçado do scanning1; a imagem é a codificação de um conceito doado ao mundo, e nossa tarefa é justamente decodificar esse conceito cifrado imageticamente, numa palavra, provocar a “síntese entre duas ‘intencionalidades’”. E nesta relação, encontram-se aberturas para interpretação, isto é, um espaço conotativo de expressão e significado. O que significa, diz o filósofo, que as imagens são representações mediadoras do mundo para o homem, que tenta entende-lo. E ao que parece, a imagem é a própria conotação entre homem e mundo. No espaço interpretativo da imagem encontra-se o modo temporal de existência; a visão sobre a superfície se dá de forma cíclica, de retorna e novamente voltar os olhos sobre elementos da imagem que anteriormente já passaram pelas vistas. É o um tempo de eterno retorno, diz Flusser; polariza a própria imagem em dois momentos de presença. Esse olhar diacrônico do observador é um tempo de magia. Cada elemento contribui na significação dos demais coabitantes, ou seja, fica clara a ideia de um tempo circular, em contraste com o linear em que um fato é causa de posterior, seguindo assim em cadeia. Cria-se, assim, um contexto mágico onde o essencial é a decodificação da imagem. Imagem, então, são códigos que traduzem eventos em situações, processos em