VIDAS
O cenário descrito é tão radical e impiedoso, que acaba por provocar a animalização dos personagens. O protagonista Fabiano encontra-se tão privado de mínimas condições de vida que se abstém da fala, já se tornando tão acostumado com esta situação a ponto de achar normal. O autor reforça a gravidade desta animalização, afirmando que são tão poucas as palavras trocadas entre os membros da família, a ponto de o papagaio que vivia com eles imitar os latidos do cachorro, pelo fato de não ouvir palavras ou outros sons para repetir. A animalização é tão forte que Fabiano aceita sua condição de bom grado, e em certo ponto até orgulha-se desta condição, enxergando-se como um animal e atribuindo a esta condição uma característica positiva, a capacidade de vencer dificuldades.
Estas condições de vida retratadas contrastam com os direitos sociais garantidos pela constituição, como educação, saúde, alimentação e trabalho, dentre outros. A frágil relação de trabalho conseguida por Fabiano no capítulo 2 faz com que ele trabalhe meramente em troco de um teto para viver. Fabiano aceita estas condições de trabalho por não ter outra opção.
O texto constitucional delimita condições e garantias que devem ser cumpridas pelo Estado, no entanto a realidade de Fabiano parece não ser alcançada por este Estado.