Vidas secas
Escrito em terceira pessoa, Graciliano não focaliza os efeitos do flagelo da seca através da crítica, mas em narrar a fuga da família, a desonestidade do patrão e arbitrariedade da classe dominante, impossibilitada de adquirir o mínimo de sobrevivência.[3]
Enquanto preparava a comida Sinhá Vitória pensava na seca, que poderia voltar. Rezou. Fabiano roncava, dormindo. Ela pensava no quanto era ruim seu marido: quando se arrastavam pela caatinga, deixava-a carregar sozinha o baú, o filho mais novo e o papagaio. Chamou seus filhos que brincavam no barro. Consertou uma cerca quebrada.
Voltou a pensar na cama. Venderia galinhas e a marrã*. Nem consultaria Fabiano, ele se entusiasmaria com a ideia e depois desistiria. Sinhá Vitória queria mesmo era a cama como a do Seu Tomás da bolandeira.
Capítulo 5 – O menino mais novo
Vendo o pai amansar uma égua, o menino mais novo sentiu o desejo de realizar algo semelhante, que surpreendesse seu irmão e a cachorra Baleia. Fabiano dava-lhe admiração, o menino acompanhava seu trabalho torcendo pelo seu sucesso em meio à poeira levantada como um redemoinho pelo animal, sofrendo com suas quedas. Não entendia como sua mãe, seu irmão e Baleia não davam importância para seus feitos heroicos.
Entre sonhos e pensamentos, surgiu no menino mais novo a ideia de montar uma cabra, tal qual seu pai montava na égua, guardadas as devidas proporções. Arquitetou o plano e pôs em prática. O garoto se segurou por alguns momentos, mas o agito do bicho o jogou ao chão. Seu irmão ria descontroladamente e Baleia olhava seriamente a cena, como quem reprovava aquilo. Lembrando-se das cabras abatidas, o garoto já sentiu-se vingado.
O menino precisava crescer para ser como o pai, para matar